O grupo de professores das Ciências Sociais da UFRPE – UAST promoveu na noite do dia 29 de julho de 2020, às 19h, a mesa-redonda online “A interiorização das Ciências Sociais na UFRPE” com as professoras Lorena Moraes, Nicole Pontes, Paula Santana e o professor Caio Sotero, docentes da Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST). O evento integrou a comemoração dos 30 anos do Departamento de Ciências Sociais (DECISO) da UFRPE.
A abertura da mesa-redonda, realizada pela professora Laeticia Jalil da UFRPE, campus Dois Irmãos, não somente contou a história de projetos, eventos e conquistas das Ciências Sociais no Sertão como provocou justamente à exposição de ações e o reconhecimento do trabalho dos/das docentes da UAST pela própria UFRPE.
A profa Laeticia Jalil deixou em evidência o poder criativo de se assumir um posicionamento anti-hegemônico e crítico que tem permitido não somente ocupar espaços dentro da UAST e no Sertão pernambucano como, a partir deles, “dar a volta do avesso do avesso do avesso”, reconhecendo as potências e gerando novas práticas e vivências. A mediadora também fez justiça aos palestrantes da noite ao relatar a diversidade de suas formações e destacar a variedade de suas áreas de atuação e dos projetos com os quais estão engajados.
As falas dos/das docentes da UAST, por sua vez, construíram a percepção de que, apesar de atuarem em uma grande área e enfrentarem o projeto político de deslegitimidade das ciências sociais , é possível relacionar diferentes f(r)ontes de trabalho e fazer dialogar saberes e práticas específicas ao ensino de graduação na UAST, por um lado, e à vivência no sertão pernambucano, por outro.
A professora Lorena Moraes, primeira falante da noite, delineou o papel dos cientistas sociais no processo de interiorização da universidade e na produção de saberes acadêmicos e científicos. Como boa pesquisadora, munida de dados quantitativos sobre as publicações/produções científicas dos pares, a professora demarcou a natureza interdisciplinar e multidimensional do trabalho dos cientistas sociais na UAST. Na verdade, durante o próprio debate a docente esclarece que o reconhecimento proposto na forma de um curso de graduação em ciências sociais ainda aguarda um contexto político e social mais receptivo.
A professora Nicole Pontes, em resposta à provocação da mediadora Laeticia Jalil, retoma a natureza interdisciplinar dos trabalhos realizados pelos/as docentes da UAST para mostrar que, em sua diversidade, articulam coletivamente práticas e saberes no âmbito das Ciências Sociais . Como exemplo, a professora relembra o I SIMFICS, o Primeiro Simpósio de Filosofia e Ciências Sociais realizado em 2015, na própria UAST, um momento ímpar que uniu professores da educação básica e das instituições de ensino superior da região para demarcar a construção coletiva da sociologia no Sertão pernambucano. Na sequência, a professora discorre sobre os eventos e projetos existentes na UAST que consolidam o trabalho das Ciências Sociais no Sertão de Pernambuco, em particular, o Grupo Dadá – cuja atuação em diferentes municípios e no tripé de ensino, pesquisa e extensão sobre gênero, sexualidade e saúde tem alterado as vidas de mulheres universitárias, rurais, sertanejas.
O professor Caio Sotero, então, retoma a história da interiorização da universidade e das Ciências Sociais para situar a condição de trabalho do/a cientista social em uma região marcada historicamente pelo êxodo profissional e estereotipada como estéril e precária, por um lado, e em um contexto histórico que se aproxima cada vez mais da polarização de valores e ideologias, por outro. O professor aponta o cuidado necessário ao fazer do/a cientista social, cujas reflexões necessariamente questionam o “normal social”, para evitar a reprodução de violências simbólicas e culturais. Exemplo dessa intervenção cuidadosa pode ser visto nos trabalho do professor com o coletivo Mangaio.
Finalmente, a professora Paula Santana traz para o debate a urgência de questionar os saberes canônicos das ciências e de se acolher as experiências e os saberes de discentes da UAST e das comunidades do sertão para construir conhecimentos na universidade e no Sertão de Pernambuco. A professora aponta, também, o poder de transformação local que as diferentes atuações das Ciências Sociais na UAST têm sido capazes de promover, o que envolve não somente reflexões em âmbitos acadêmicos, mas, alternativamente, as vivências por meio das artes – como procura promover por meio do Grupo Macondo.
Ao final das exposições, a mediadora Laeticia Jalil articulou as falas do professores à sua concepção de um poder do Sertão – que leva cientistas sociais a atuarem desde a cultura, a arte, a sexualidade, as questões étnicas, a agricultura familiar aí emergentes – e apresentou as saudações, as perguntas e as inquietações dos ouvintes sobre o trabalho realizado na UAST.
Em paralelo à esperança coletiva de um curso de graduação que consolide as Ciências Sociais na UAST, é importante frizar que todas/os docentes presentes na mesa-redonda acreditam que atuar nos cursos de graduação e desenvolver ações de pesquisa, ensino e extensão constitui campo de realização das reflexões, sensibilizações e práticas inerentes às Ciências Sociais. Essa grande área não se encontra diminuída em representativadade ou expressividade, pelo contrário, há sinais claros do valor e do poder inerente ao trabalho dos/das cientistas sociais no Sertão pernambucano e na UAST.
Para conferir o debate na íntegra, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=ouQBAj8y8bY