O sofrimento não é inerente à população LGBTQIA+, mas à construção social preconceituosa sobre estes modos ser. Poderíamos dizer assim, um preconceito estrutural. Sustentado por uma estrutura social pautada no modelo heteronormativo como única possibilidade reconhecida e, por isso, legitimada.
Desse modo, quem está fora do padrão heteronormativo, sofre exclusão, apagamento, violência (das mais variadas ordens), quando não há uma tentativa torpe de aprisionamento em uma psicopatologia qualquer como forma de associação direta entre sexualidade LGBTQIA+ e psicopatologia.
No último domingo, 17 de maio, comemorou-se o Dia Internacional contra a LGBTQIA+fobia. O Brasil ainda é um dos países onde mais LGBTQIA+ são mortos e sofrem discriminação. Assim, no mais das vezes, essa população convive com um medo constante de sair de casa decorrente das mais variadas violências que lhe são dirigidas.
Hoje, toda a população mundial sente esse medo devido à pandemia que se instalou. Sair de casa incorre em um risco real de morte, e, o distanciamento social surge como possibilidade de autopreservação e cuidado, tanto para consigo como para com os demais.
Esse distanciamento também assola a população LGBTQIA+ em dias comuns, sem pandemia. O processo de descoberta e autoaceitação da sexualidade LGBTQIA+ acaba sendo solitário, visto que é permeado por um questionamento constante sobre a aceitação ou não dos demais e por um medo de perda de pessoas queridas devido a não aceitação e preconceito.
A condição de isolamento social que o mundo vive hoje, a população LGBTQIA+ vive todos os dias. Para este público, a rotina de medo e distanciamento é cotidiana e infelizmente, diferente da pandemia, não é pontual, mas se estende por toda a vida.
Enquanto todos esperam que a pandemia acabe para voltar a sair na rua sem medo ou ameaça constante de morte, a população LGBTQIA+ sabe que esse é um privilégio que não lhe é dado, já que pós-pandemia ainda existirá o vírus do preconceito que só poderá ser combatido através de uma profunda mudança no modos engessados de se pensar gênero e sexualidade na nossa sociedade.
Assim, mesmo neste momento de pandemia, é importante não esquecermos de tensionarmos estes padrões socialmente estabelecidos, abrindo espaço para reconstrução de olhares e discursos mais empáticos e justos que possibilitem que as pluralidades subjetivas da população LGBTQIA+ sejam livres.
#ficaemcasa
Jamille Cardoso- Psicóloga NAPS/UAST/UFRPE
Angelita Gouveia- Psicóloga COGESTI/UAST/UFRPE